Seria melhor devolvê-lo no fim da quarentena, mas ele cresceu e está se fazendo galinha, salta bem já. Periga pular pro lado dos cachorros. Melhor devolvê-lo antes que aconteça uma desgraça, mas estamos divididos, como o Brasil. Quando Lu trouxe o pintinho eu fui contra. Me vinha à mente casos de pintinho da infância; não muito bons. Então é melhor devolvê-lo agora antes que ele pule do outro lado do portão e nos dê mais esse desgosto. Mas estamos divididos. Julia não quer e eu confesso que me fará falta essa criatura leve, que vinha dormir no meu pé e esvaziar sua cloaca na minha meia. Como é que pode? Somos fracos desse jeito? Em plena epidemia se emocionar com um pintinho não é sintoma de isolamento? Quem quer devolvê-lo é a Lu que desenvolveu a mania da limpeza absoluta. Mas antes do fim da quarentena parece um contra-senso. Como seria a vida agora que a família ficou pequena? E depois de tudo já me acostumei com o trabalho: tira a caixa, limpa a caixa, forra a caixa, sobe a caixa, guarda a caixa na lavanderia para mais uma noite em solitária, o pobre pinto, separado de suas irmãs tão cedo. Ah! Suas irmãs moram no vizinho, vendedor de ovos, ele. Mas então por que não lhe colocamos uma fita na perninha fina e vamos visitá-lo quando chegar a hora de repor os ovos na geladeira. Talvez até sejam seus. Os ovos do pinto que criamos! Verdadeira estória de ressureição depois dessa maçada de virus e de mortes. Boa idéia! Isso mesmo! Mas não agora. Não ainda. Vai dar tudo certo. Precisamos ficar os quatro juntos e prestar atenção nos cachorros.
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